domingo, 2 de julho de 2023

983 - O RESGATE DA ASSESSORA


Ontem, participei de um maravilhoso encontro da primeira turma de delegados e delegadas de polícia civil do Estado do Amapá. Ingressamos na carreira em 1992 e nos reunimos para comemorar a linda e produtiva trajetória daquela inesquecível turma.

Em um aprazível sábado, reforçamos amizades de décadas, comemos, bebemos, nos abraçamos, e relembramos muitas e boas histórias compartilhadas nessas mais de três décadas de saudável convivência.

Do meio para o final da festa, vencendo a timidez e o receio, decidi prestar meu inconfessável depoimento. Comecei registrando que, embora marcante e fundamental para a minha vida, fui o delegado de polícia de menor carreira no país, quiçá até do mundo, pois, sem contar o período de academia, permaneci no quadro por apenas trinta e oito dias. Lembrei ainda que, não bastasse o pouquíssimo tempo de atividade, a minha única e relevante diligência externa foi resgatar uma jovem perdida pelas ruas de Macapá.

Eu estava na delegacia em um final de tarde quando um telefonema movimentou o nosso monótono plantão. Um diligente sargento da polícia militar informou que uma moça chorava copiosamente à beira da calçada da Avenida Padre Julio, no centro da cidade, e que a única informação que conseguia  balbuciar é que conhecia o delegado plantonista.

Sem maiores delongas cuidei logo em acionar minha pequena mas valorosa equipe e entramos rapidamente na pouco acessível viatura Toyota Bandeirantes, com cabine dupla e apenas duas portas. Antes, por cautela e segurança , coloquei no cós da calça a arma da delegacia, um revólver, calibre 38, cujo cano longo humilhava o meu.

Ao chegar ao local da ocorrência me deparei com a cena do crime devidamente isolada. Para minha surpresa, a desesperada jovem, rodeada por curiosos,  tratava-se da minha querida amiga e conterrânea Maria Lourdes. Recém chegada do interior do Ceará, Lourdinha, como carinhosamente chamada, desempenhava a função de competente assessora jurídica na Assembleia Legislativa do Estado. 

Logo me inteirei completamente e registrei em relatório os motivos daquela situação que movimentou o plantão policial da à época pacata capital do Amapá. Após o expediente, Lourdinha costumava sair pela porta principal da casa de leis, caminhando poucas quadras pela Avenida FAB até à  Rua Tiradentes, onde morava. Mas, naquela fatídica tarde, a assessora jurídica cometeu o grave erro de sair pela porta dos fundos da assembleia.

Após caminhar algumas quadras, a jovem cearense perdeu o senso de localização e se desesperou, caindo em prantos. Ainda bem que foi acolhida por populares, protegida por militares e resgatada a tempo por minha valorosa equipe de plantão. 

Com a situação completamente esclarecida, com luzes intermitentes e sirenes da viatura ligadas, rumamos para a Rua Tiradentes, a apenas duas quadras de distância do local do crime, onde, em sua casa, deixamos,  protegida e amparada, a localizada e salva assessora Maria de Lourdes. 

(imagem Google)

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