terça-feira, 2 de junho de 2009

42 - AUTO -ESCOLA ZÉ DO NORTE




         Mesmo proprietário da movimentada Sapataria Cavalcante, Zé do Norte, precavido e econômico, nunca descuidou do seu paiol. Temendo as recorrentes secas do sertão e as carestias causadas pela falta do cereal na entressafra, sempre conservou o depósito de sua casa repleto de sacas de arroz.

          No começo de uma manhã de domingo da década de setenta, esperava um operário para espalhar arroz com casca na calçada, quando recebeu a visita de seu irmão Antônio Cavalcante Cassundé (Pista) e do seu tio Carlos Gonçalves Cassundé (Carlito). Os dois convidaram Zé do Norte para participar de uma aula de direção no jipe de Zé de Ginu. Mesmo já vestido com calça e camisa brancas, arrumado para a missa matinal, Zé do Norte aceitou o convite, pois ansiava aprender a dirigir. Agoniado, sem sequer avisar a sua esposa Antônia Souza Cavalcante (Toinha), pulou no banco traseiro do famoso automóvel da época.

          Antes de pegar a estrada e dar as primeiras lições, Carlito parou o jipe na bomba do Posto Shell de Antônio Rolim e insinuou:

          - Zé, esse bichin de quatro rodas só anda se botar gasolina.

          Assim, embriagado de alegria com a incomum oportunidade de aprender a dirigir, o seguro Zé do Norte meteu a mão no bolso e encheu o tanque do automóvel.

          Sempre com Pista na direção, o jipe foi na cidade de Farias Brito e voltou. No sacolejo da viagem de mais de sessenta quilômetros percorridos em estrada de chão batido, Zé do Norte não pegou no volante do veículo, ficou apenas ouvindo atentamente as instruções de Carlito.

           Por volta do meio-dia, Zé do Norte finalmente foi deixado na porta de casa e logo viu que o seu arroz não fora espalhado para secar ao sol. Ainda naquele instante, ao encontrar o esposo chateado e com a roupa amassada e vermelha de poeira, Toinha reclamou:

         - Zé, você combina com o homem pra cuidar do arroz e sai sem avisar...

         Furioso por ter sido enganado pelos espertos Carlito e Pista, sentido porque perdera a missa e não secara ao sol suas quartas* de arroz, Zé do Norte ordenou:

         - Toinha, minha véia, pegue o pau de bater arroz e me dê uma surra. Um caba besta como eu merece é peia.


* unidade cearense de peso correspondente a sessenta quilogramas

Colaboração: Luiz Cavalcante

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