O
Movimento Brasileiro de Alfabetização – MOBRAL,
campanha criada na década de setenta com o ambicioso desejo de mudar uma triste
herança educacional, pretendia ensinar jovens e adultos a ler e
a escrever.
O
pretensioso projeto do governo militar utilizava a cartilha como
ferramenta para o ensino da leitura e da escrita, usando o método tradicional da
repetição e soletração de palavras soltas, sem se preocupar com as peculiaridades
e culturas locais.
Como
em outros rincões do imenso Brasil, na zona rural do Ceará também foram realizadas
várias ações para alfabetização dos adultos.
Certa
noite, depois de um dia de intensa atividade na roça, um grupo de agricultores
do sertão cearense se reuniu em uma apertada e improvisada sala. Para facilitar
o aprendizado, a dedicada professora afixou na parede algumas gravuras de
objetos com os seus respetivos nomes. Após várias repetições, apontando para a imagem
de uma boneca de pano e para as letras da palavra, disse:
- Vejam como é fácil ler. Olhem pra essa figura e soletrem comigo: um bê com ó, bó; um ene com é, né; um cê com a, cá...
Em
seguida, os alunos, atentos para a figura e sílabas coladas na parede, soletraram:
- be ó bó,
ene é né, cê a cá.
Satisfeita,
a professora continuou:
- Muito
bem! Agora leiam qual a palavra tá escrita aqui.
Observando
atentamente a gravura, mas usando o seu próprio e original vocabulário, os sertanejos
leram:
- Calunga*.
* Calunga era uma palavra usada no
sertão cearense também como sinônimo para boneca.
(imagem Google)
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