terça-feira, 10 de abril de 2012

584 - CARTILHA DO MOBRAL





O Movimento Brasileiro de Alfabetização – MOBRAL, campanha criada na década de setenta com o ambicioso desejo de mudar uma triste herança educacional, pretendia ensinar jovens e adultos a ler e a escrever.

O pretensioso projeto do governo militar utilizava a  cartilha como ferramenta para o ensino da leitura e da escrita, usando o método tradicional da repetição e soletração de palavras soltas, sem se preocupar com as peculiaridades e culturas locais.

Como em outros rincões do imenso Brasil, na zona rural do Ceará também foram realizadas várias ações para alfabetização dos adultos.

Certa noite, depois de um dia de intensa atividade na roça, um grupo de agricultores do sertão cearense se reuniu em uma apertada e improvisada sala. Para facilitar o aprendizado, a dedicada professora afixou na parede algumas gravuras de objetos com os seus respetivos nomes. Após várias repetições, apontando para a imagem de uma boneca de pano e para as letras da palavra, disse:

-  Vejam como é fácil ler. Olhem pra essa figura e soletrem comigo: um com ó, bó; um ene com é, né; um com a, ...

Em seguida, os alunos, atentos para a figura e sílabas coladas na parede, soletraram:

-  be ó bó, ene é né, a cá.

Satisfeita, a professora continuou:

- Muito bem! Agora leiam qual a palavra tá escrita aqui.  

Observando atentamente a gravura, mas usando o seu próprio e original vocabulário, os sertanejos leram:

- Calunga*.


* Calunga era uma palavra usada no sertão cearense também como sinônimo para boneca.

(imagem Google)

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