sexta-feira, 20 de julho de 2012

625 - AS ÚLTIMAS FORÇAS DO SERTANEJO




Após  acompanhar o movimento popular e religioso ocorrido na Bahia, no final do século XIX, liderado pelo cearense de Quixeramobim Antônio Conselheiro,  o escritor e jornalista Euclides da Cunha, em seu festejado livro “Os Sertões”, defendeu que o “sertanejo é, antes de tudo, um forte”.

E olha que o culto fluminense não chegou a conhecer os habitantes ou a ouvir as histórias do Arrojado, pequeno distrito do município cearense de Lavras da Mangabeira, com homens e mulheres resistentes, acostumados ao duro trabalho na roça e à lida com o gado.

      Há alguns anos, no Arrojado, o experiente agricultor Zé Jorge foi visitar uma senhora de cerca de noventa anos que há vários meses, desenganada, sofria enferma em uma rede. Dia e noite a modesta casa da moribunda vivia cheia de visitantes, curiosos e rezadeiras.

Ao chegar à sintinela* da amiga e observar a magra mulher respirando com dificuldade, o velho lavrador se dirigiu à cozinha da casa, pegou dois ovos de galinha caipira e, misturados com várias colheres de açúcar, bateu em uma tigela. Em seguida, Zé Jorge, sob o olhar de vários visitantes, deu o preparado na boca da pobre enferma. Bastou engolir a última colherada, a idosa senhora arregalou os olhos, arrepiou os cabelos e deu o último suspiro. O lavrador, ainda com a colher e a tigeja nas mãos, se afastou um pouco da rede e disse:

       - Essa pobe muié tava era sem fôça pra descansá...


* costume comum no sertão nordestino de acompanhar os últimos momentos do doente que não tem mais esperanças de recuperação.
Colaboração: Maria de Lourdes Sousa
(imagem Google)

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