Após acompanhar o movimento popular e religioso ocorrido na Bahia, no final do século XIX, liderado pelo cearense de
Quixeramobim Antônio Conselheiro, o
escritor e jornalista Euclides da Cunha, em seu festejado livro “Os Sertões”, defendeu
que o “sertanejo é, antes de tudo, um forte”.
E olha que o culto fluminense não
chegou a conhecer os habitantes ou a ouvir as histórias do Arrojado, pequeno distrito
do município cearense de Lavras da Mangabeira, com homens e mulheres resistentes,
acostumados ao duro trabalho na roça e à lida com o gado.
Há alguns
anos, no Arrojado, o experiente agricultor Zé Jorge foi visitar uma senhora de
cerca de noventa anos que há vários meses, desenganada, sofria enferma em uma
rede. Dia e noite a modesta casa da moribunda vivia cheia de visitantes, curiosos e
rezadeiras.
Ao chegar à sintinela* da amiga e observar a magra mulher respirando com
dificuldade, o velho lavrador se dirigiu à cozinha da casa, pegou dois ovos de
galinha caipira e, misturados com várias colheres de açúcar, bateu em uma
tigela. Em seguida, Zé Jorge, sob o olhar de vários visitantes, deu o preparado
na boca da pobre enferma. Bastou engolir a última colherada, a idosa senhora arregalou
os olhos, arrepiou os cabelos e deu o último suspiro. O lavrador, ainda com a
colher e a tigeja nas mãos, se afastou um pouco da rede e disse:
- Essa pobe muié
tava era sem fôça pra descansá...
* costume comum no sertão nordestino de acompanhar os últimos
momentos do doente que não tem mais esperanças de recuperação.
Colaboração: Maria de Lourdes Sousa
(imagem Google)
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