quarta-feira, 17 de abril de 2013

745 - CHEQUE RASURADO







Meu pai Luiz Cavalcante exerce a atividade de bodegueiro há mais de cinquenta anos na cidade de Várzea Alegre. Nesse longo período sempre desconfiou da relação com os bancos e recusou insistentes ofertas de créditos, poucas vezes buscando financiamentos para incrementar a sua atividade comercial.


Muito cauteloso, temendo endividamento desnecessário, meu querido pai, em sua bodega, exerce um ritual sempre que recebe pelos correios cartão de crédito das administradoras. Com uma grande tesoura, mantida amarrada ao balcão por um elástico, ele corta o cartão em pequenos pedaços, jogando-os no lixo. Assim, impede qualquer tentação financeira ou o uso indevido do dinheiro de plástico por terceiras pessoas.


Na cidade cearense há outros experientes comerciantes com a mesma prudência no uso dos produtos bancários, entre os quais, meu tio Sérgio Carvalho, hoje aposentado. Em seu armazém, quando errava no preenchimento de um cheque, rasgava a folha em pedaços muito pequenos, guardando-os momentaneamente no bolso fundo da calça. Após fechar seu estabelecimento, na volta para casa, o metódico comerciante seguia espalhando os pedacinhos de papel pelo caminho, tirando-os discretamente do seu bolso.


Dessa forma, nem mesmo aquele que conseguisse a façanha de colar as pequenas partes do cartão de crédito do meu pai, seria capaz de encontrar as minúsculas peças e montar o quebra-cabeça das folhas de cheques espalhadas por tio Sérgio pelas tranquilas vias da cidade do sertão cearense.



Colaboração: Luiz Fernando Costa Cavalcante

(Imagem Google)


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