Meu pai Luiz Cavalcante exerce a atividade de
bodegueiro há mais de cinquenta anos na cidade de Várzea Alegre. Nesse longo período sempre
desconfiou da relação com os bancos e recusou insistentes ofertas de créditos,
poucas vezes buscando financiamentos para incrementar a sua atividade comercial.
Muito cauteloso, temendo endividamento desnecessário,
meu querido pai, em sua bodega, exerce um ritual sempre que recebe pelos
correios cartão de crédito das administradoras. Com uma grande tesoura, mantida
amarrada ao balcão por um elástico, ele corta o cartão em pequenos pedaços,
jogando-os no lixo. Assim, impede qualquer tentação financeira ou o uso
indevido do dinheiro de plástico por
terceiras pessoas.
Na cidade cearense há outros experientes comerciantes
com a mesma prudência no uso dos produtos bancários, entre os quais, meu tio
Sérgio Carvalho, hoje aposentado. Em seu armazém, quando errava no
preenchimento de um cheque, rasgava a folha em pedaços muito pequenos,
guardando-os momentaneamente no bolso fundo da calça. Após fechar seu
estabelecimento, na volta para casa, o metódico comerciante seguia espalhando
os pedacinhos de papel pelo caminho, tirando-os discretamente do seu bolso.
Dessa forma, nem mesmo aquele que conseguisse a
façanha de colar as pequenas partes do cartão de crédito do meu pai, seria capaz
de encontrar as minúsculas peças e montar o quebra-cabeça das folhas de cheques
espalhadas por tio Sérgio pelas tranquilas vias da cidade do sertão cearense.
Colaboração:
Luiz Fernando Costa Cavalcante
(Imagem
Google)
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