sexta-feira, 9 de outubro de 2009

91 - PRENDENDO A BOLA




         É perceptível e louvável o atual esforço da polícia para se aproximar da população. O modelo da segurança comunitária, onde os policiais agem com o apoio e em favor dos cidadãos, espalha-se entre as corporações do país. A cada dia apresentam experiências inovadoras e vitoriosas que atendem os reclames e anseios da sociedade.

          Mas, na década de setenta, em Várzea Alegre, a polícia possuía uma missão e um inimigo pouco comum: apreender bolas de indefesas crianças. Impossível descobrir qual o potencial ofensivo de uma bola ou da infração praticada por meninos que jogam na rua. Como não havia risco de acidentes, pois a frota de veículos da cidade era diminuta, certamente a operação policial surgiu em decorrência de algum comodista que se chateou com a alegria dos garotos brincando pelas calçadas.

         Contudo, numa estreita pracinha que separava a Rua Duque de Caxias, atual Calçadão Antônio Alves Costa, bem no centro comercial, todo final de tarde, eu, Júlio, Geraldo Filho, Fernando, Paulo Roberto, Zé Wilton, Serginho e outros garotos desobedecíamos a ordem policial. Descobrimos uma forma de não interromper nossas partidas. Jogávamos descalços e com a bola mais barata do mercado, comprada na bodega de Seu Nenê, localizada bem ao lado da improvisada quadra de futebol. Se a polícia surgisse de repente e apreendesse nossa bola, adquiríamos imediatamente outra.

       O único inconveniente da estratégia era que, em decorrência da baixa qualidade da pequena bola, do estado precário da improvisada quadra, e, principalmente, da pouca habilidade dos jogadores, todo dia alguns voltavam pra casa com a “cabeça do dedo” arrancada.


(imagem Google)

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