quinta-feira, 22 de julho de 2010

216 - O REVÓLVER DE ZÉ VIEIRA





          Em um fim de tarde, na segunda metade do século passado, no sítio Chico, conhecida zona rural de Várzea Alegre, um andarilho bateu à porta da casa do agricultor Joaquim Fiúza e pediu um copo d’ água. Ao perceber a situação de penúria e o visível cansaço do caminhante, o hospitaleiro sertanejo também lhe ofereceu um prato de comida e um local para atar a rede e passar a noite. Após saciar a sede e a fome, o esquisito homem falou pouco. Disse apenas que caminhava sozinho de Canindé ao Juazeiro do Norte cumprindo uma promessa.



          Um pouco mais tarde, já noite, quando se preparava para dormir, Joaquim Fiúza passou a temer o estranho e calado romeiro que abrigara em um canto da sala de sua casa. Por cautela, após combinar baixinho com a esposa Izabel, para causar temor ao romeiro deitado no cômodo ao lado, de dentro do quarto, separado da sala apenas por meia parede*, o agricultor travou com a mulher um diálogo sobre fantasiosa arma:



           - Izabel, cadê o revolver que pedi emprestado de Zé Vieira?



            - Taí no baú, Joaquim – respondeu, Izabel.



            - E tá carregado? – continuou, o agricultor.



            - Tá chein de bala. – afirmou com segurança a dona de casa.



            No dia seguinte, logo cedo, antes dos primeiros raios de sol, o humilde romeiro, no cumprimento da promessa iniciada na cidade cearense de Canindé, seguiu sua penosa caminhada em direção à terra do Padre Cícero.



           Quando soube da história, o agricultor Zé Vieira, com sua sabedoria matuta e humor refinado, imediatamente reclamou:



           - Joaquim, num proceda mais assim não. Você me deixou desprotegido, desarmado.



* parede interna que não vai até o telhado

Colaboração: Francisco de Souza Sobrinho

(imagem Google)

Um comentário:

  1. Cada vez melhor... Alegra meu dia, de vez em quando me pego lembrando e passando vexame, rindo à toa(para os que estão perto)...

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