Estamos na época do coelho de páscoa e dos ovos de chocolates, mas em outro período um diferente animal protagonizou uma intrigante história. Vivia-se os últimos dias de 1995 e a família do Jardim das Oliveiras em Fortaleza se preparava para a aguardada ceia de Natal. Todos sentados à mesa observavam o peru girar dentro do recém adquirido forno de microondas. Arroz, batata, salada e outros acompanhantes esperavam o prato principal.
Aquela festejada noite também marcava a inauguração do comentado equipamento doméstico. Nem milho de pipoca havia estourado no moderno forno.
Depois de alguns minutos assistindo ao peru girar, Hudson, com fome, gritou:
- Mãe, o peru tá apitando. Nun já tá bom não?
- Antoi, tira o peru aí, tou levando as cocas – pediu dona Fransquinha ao marido.
Com a delicadeza de um trator de esteira, o já faminto Antônio de Leó mirou e apertou no botão vermelho para destravar a porta do forno. Amassou uma, duas, três vezes e nada de abrir. Na verdade, o biloto* afundou e não voltou. O suspense tomou conta do ambiente, pois não havia outra forma de abrir e resgatar o principal prato da ceia. Jayra, a filha caçula, alertou.
- Pai, o senhor vai furar o forno com essa faca de mesa.
Como o comentário da filha, Antônio parou de forçar as beiradas do já antipatizado equipamento. Não havia saída. O forno se trancou feito cofre e não havia como retirar o peru de dentro. Dona Fransquinha fritou meia dúzia de ovos para a família. Todos cearam apenas sentindo o cheiro do peru.
O animal permaneceu trancado no forno durante todo o fim de semana prolongado. Somente na segunda-feira Antônio levou o forno para a assistência técnica. Ao voltar com o equipamento consertado, foi recebido na porta pelo filho Hudson que perguntou:
- Pai, e cadê o peru?
- Deixei na assistência. Eu lá quero aquele bicho teimoso aqui em casa.
*sinônimo cearense para botão, interruptor.
Colaboração: Hudson Batista Rolim
(imagem Google)
(publicado originalmente em 23 de março de 2010)
Nenhum comentário:
Postar um comentário