segunda-feira, 20 de julho de 2009

60 - PEIXADA




          O açude de Orós, construído há cinquenta anos no árido sertão nordestino durante o governo do arrojado presidente Juscelino Kubtscheck, continua como uma das grandes atrações turísticas da região centro-sul cearense.

         No percurso para o enorme reservatório é obrigatório parar nas peixarias da vizinha Lima Campos. Todos os restaurantes do lugar oferecem delicioso almoço com o pagamento em sistema de rodízio.

          Em um desses inesquecíveis passeios de férias, no inicio da década de noventa, meu querido tio materno Paulo Danúbio patrocinou a ida de vários sobrinhos para a terra do famoso cantor Fagner. Depois de algumas divertidas horas no açude, os banhistas, no meio da tarde, com apetite aguçado, foram almoçar em um pequeno restaurante de Lima Campos. O proprietário do humilde comércio foi quem explicou as regras do rodízio:

          - Aqui adulto paga inteira e criança até dez anos paga apenas metade do preço. Pode comer peixe até o bucho quebrar.

          Foi um festival de comida. Peixe para todos os gostos: cozido, frito e assado. Tudo acompanhado com muito baião de dois, farofa e pirão. Em pouco tempo os banhistas se fartaram da sortida refeição. Com uma exceção, pois meu primo Dirceuzin, à época com uns nove anos de idade, continuou apreciando a boa comida. Toda hora, com muita simpatia, pedia algo para o proprietário:

         - Ei, seu Zé, avia, traz mais um pirãozin. Inda tem ova de Cumiratã ?

         Depois de várias idas e vindas à mesa do apetitoso banhista, o atencioso dono do restaurante se dirigiu ao professor Paulo Danúbio e rogou:

         - O senhor se incomoda de pagar inteira para esse gordin? Esse minino me engabelou*, não para de comer. Desse jeito tou lascado. Vai fechar minha peixaria.


*flexão verbal do verbo engabelar, de uso comum entre os cearenses, que significa enganar, iludir.
(imagem Google)

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