Entre os meus inúmeros amigos de infância
poucos desenvolveram habilidade para trabalhos manuais como Assis Filho, vizinho do Beco da Liberdade. Na
alvenaria, pintura, carpintaria ou em qualquer outro oficio o garoto se saía
como adulto.
Enquanto os carros com rolamento (rolimã) das
outras crianças eram construídos simplesmente com
uma tábua de madeira, Assis Filho, com o mesmo material,
desenvolveu sozinho sua motocicleta, com guidon,
freio e tudo mais.
Certa vez, na década de 70, Várzea
Alegre recebeu um circo diferente das modestas companhias que vez ou outra
visitava a cidade cearense. Nesses dias o espetáculo apresentado trazia
muita pompa, luxo e novidades. Dentre as apresentações de
maior sucesso destacou-se o impressionante Globo
da Morte, onde em seu interior motoqueiros malucos guiavam perigosamente
suas rápidas e barulhentas motocicletas.
Bastou Assis Filho assistir a uma apresentação do
grande circo para rapidamente fazer o seu próprio Globo da Morte. Em lugar dos fortes
metais do original, o garoto construiu o seu com sobras de fios de arames que
seu pai usava para consertar as gaiolas de passarinhos.
Recentemente, ao reencontrar Assis Filho, hoje
policial civil, casado e pai de três filhos, lembramos com
alegria dessas e de outras passagens da nossa infância. E concluí que
as habilidades daquele menino se justificavam por uma simples e determinante
razão. Ele nasceu do querido casal Raimunda de Antõe José e Assis Pires, costureira e alfaiate de mão
cheia. Até hoje, com mais de noventa anos, seu Assis cuida
diariamente das suas gaiolas e dona Raimunda trabalha na sua inseparável máquina
de costura.
(imagem
Google)
Nenhum comentário:
Postar um comentário