quarta-feira, 27 de março de 2013

736 - CORTE DE VICENTE CESÁRIO






Em uma tranquila e quente tarde da década de setenta, em Várzea Alegre, na tradicional barbearia de Vicente Cesário, situada na antiga Rua Major Joaquim Alves, apareceu um cliente pouco comum. Tratava-se de um varzealegrense que morou poucos meses em São Paulo mas voltou como se nascido e criado naquelas longínquas terras bandeirantes.

Com forçado sotaque paulista, vestindo extravagantes roupas adquiridas na breve estada  pela progressista capital econômica brasileira,   o rapaz sentou-se na surrada cadeira do barbeiro e disse:

- Mano, eu quero que dê um trato no meu cabelo igual faço no São Paulo...

O experiente barbeiro, com tesoura e pente nas mãos, começou o serviço, só ouvindo a conversa do falante rapaz:

- No Sul eu só vou num salão lá da Ipiranga*. Num tem essa quentura daqui não. No verão é da hora, é tudo no ar refrigerado...

E continuava abusando das gírias:

- Aqui é a maior queimação. Nem lava nem passa creme no cabelo da gente...

Essa ladainha foi até o final, com o rapaz contando vantagens de sua rápida passagem por São Paulo. Concluído o corte, enquanto Vicente guardava as tesouras e os pentes usados no trabalho, o abusado cliente perguntou:

- E aí, meu? Quanto foi a parada?

O velho barbeiro, que ouvira calado as gabolices do deslumbrado jovem, decidiu ir à forra, dizendo:

- Num vou cobrá caro não. Mim pague só o preço de São Paulo...


* famosa rua do centro de São Paulo.
(Imagem Google)
colaboração: Paulo Danúbio Carvalho Costa

Um comentário:

  1. cabra besta esse logo com o experiente vicente cesario. foi boa demais eu acho q com uma dessa nunca mais ele pos os pes na velha e boa barbearia de vicente cesario. kkk

    ResponderExcluir