segunda-feira, 30 de maio de 2011

398 - O DESEJADO CRATO (Pedra de Clarianã há dois anos)



          Arivaldo Siebra, primo de Alberto, morava no desenvolvido município do Crato, mas com freqüência passava as férias em Várzea Alegre, hospedando-se na casa dos tios Seu Zé Augusto e Dona Zulmira. Como havia nascido e se criado no progressista município caririense sempre trazia novidades e brincadeiras diferentes que deixavam os meninos Antônio Ulisses e Alberto boquiabertos.

           Numa dessas vindas à “Terra do Arroz”. Arivaldo convidou seu primo Alberto para ir ao Cariri, conhecer as novidades e os progressos daquela região.

           Antônio Ulisses, ouvindo atentamente o convite, desejou acompanhar seu amigo e vizinho na viagem. Porém, como não poderia, pediu a Alberto que, quando voltasse do passeio, lhe contasse detalhadamente como era o Crato. Alberto, muito sabido, asseverou que só contaria se o colega levasse sua mala até o caminhão misto de Seu Lourival Clementino, que partiria da frente da Prefeitura. Na época, não existiam as sofisticadas e leves malas de hoje. Estas eram feitas em madeira e pesavam bastante, mesmo quando ainda vazias.

         Sem conseguir esconder a ansiedade, no dia marcado para o retorno, o garoto esperou o misto na entrada da cidade, onde é hoje o bairro Betânia, aproveitando pra pegar um “bigu”, pendurado na traseira do caminhão do Seu Lourival. Na boléia, cheio de pose, vinha o turista Alberto.

         Ao chegar no ponto de desembarque, Alberto determinou que seu amigo apanhasse a mala na carroceria do caminhão e a levasse de volta pra casa. Em face das novidades trazidas do Cariri, a bagagem pareceu ainda mais pesada; contudo o carregador, desejoso de ouvir as histórias, cumpriu com muito esforço a tarefa de trazer a mala até o interior da residência do Sr. Zé Augusto. Ao chegar ao destino, ainda ofegante, disse:

          — Pronto, Alberto, me conte agora como foi a viagem.
 
          O amigo, com muita banca, afirmou que, por estar cansado, iria se deitar e, somente no dia seguinte, falaria sobre a viagem. Assim, Antônio Ulisses já amanheceu o dia debaixo do hoje sexagenário “Pé de Figo”.

          Lá pelas tantas, finalmente, Alberto se acordou, e seu amigo passou a implorar pelas histórias prometidas. O pequeno turista disse que só contaria depois que merendasse. Ao findar o café da manhã, Alberto finalmente resolveu contar as novidades ao seu amigo.

         Antônio Ulisses ouviu atentamente todas as histórias. Se, em Várzea Alegre, a água era trazida para as casas no lombo dos animais, dentro das ancoretas, no Crato, o precioso líquido jorrava de dentro das paredes das casas. Se aqui o velho motor gerador, de responsabilidade de Seu Julio e Zé Saldanha, só funcionava em parte da noite, no vizinho e à época distante município, a luz acendia de dia e de noite. Na capital do Cariri, havia gelo com gosto de goiaba, abacaxi e várias outras frutas. O nosso pobre menino não conhecia o delicioso picolé; só havia provado do gelo do bar do Seu Zé de Souza, que funcionava próximo do prédio onde hoje é o Armazém Progresso, de Seu Vandir Viana.

          Alberto não esqueceu de contar que, na Serra de São Pedro, na ida e na volta, ficou impressionado com a denominada “curva da morte”. Antônio Ulisses exigiu detalhes daquele perigoso e comentado trecho da estrada. Alberto, sem medo de exagerar, contou que a curva era tão fechada que, no meio dela, da boléia, dava para ver a traseira e a placa do caminhão.

           Por fim, Alberto disse que, no Cariri, havia o fascinante transporte ferroviário. O trem era uma fila de carros amarrados um no rabo do outro e o da frente dizendo:

           — Café com pão, bolacha, não; café com pão, bolacha, não.

          Em frente à estação ferroviária, havia uma bela praça e, naquele lugar, Alberto viu um galeguinho, parecidíssimo com o amigo de Várzea Alegre. Ouvindo calado e atento a todas essas maravilhosas histórias, Antônio Ulisses, com voz forte e suspirante, exclamou:

        — Ah se fosse eu!


* extraído do Livro Conte Essa, Conte Aquela - Histórias de Antônio Ulisses.

3 comentários:

  1. Essa me fez viajar no tempo (apesar de não ser dessa época), eu já ao contrário nunca quis conhecer o Crato e agora o amo...Só que Várzea Alegre agora, tá com tudo em cima também!

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  2. Dr. Flavim, essa me levou longe, pois conheci esta Várzea Alegre aí.
    Brinquei de esconde-esconde nos buracos dos postes.KKKKK
    E o "picolé incolor e sem sabor", pedíamos na casa do Dr. Lemos. Geladeira de Gás!

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  3. ESTA FOI LONGE DEMAIS...ME LEVOU A DOIS SENTIMENTOS MARAVILHOSOS.NESSA EU SORRI E CHOREI OU...CHOREI E SORRI.LEGAL...!!!QUE DOM MARAVILHOSO ESSE DE CONTAR HISTORIAS OU ESTORIAS?AMEI DEMAIS....E AMO ESTA TERRA E ESTE POVO.

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