quarta-feira, 1 de junho de 2011

399 - O JOVEM BALEADO



           Na década de cinquenta, em Várzea Alegre, no sítio Atoleiro, um jovem agricultor conhecido por Zé, sentado sobre as estacas da cerca, após um dia de estafante trabalho na roça, aguardava os amigos para o costumeiro bate-papo de fim de tarde. O rapaz, com sua inseparável faca, limpava as unhas dos pés quando surgiu pela estrada vicinal, montado em um burro, o policial militar Pantaleão, que voltava de uma diligência no sítio Iputi.

         Suspeitando da atitude do rapaz, o policial, recém destacado na sede do município, ordenou:

          - Que é que tu tá fazendo aqui sozin na boca da noite? Me dê essa faca aí.

          - Dou nada – respondeu Zé, em um arroubo de coragem e atrevimento.

          Mas ao perceber que o policial sacara o revólver, o rapaz pulou da cerca e saiu correndo. Durante a fuga desesperada para casa, sem olhar para trás, o agricultor ouviu dois estampidos.

         Já cruzando a soleira da porta de sua modesta residência, ao encontrar seu velho pai, o ofegante rapaz,  com voz trêmula, perguntou:

         - Pai, saingue tem cheiro de que?

        O agricultor, sem entender o que acontecia, com o cigarro de fumo no canto da boca, indagou:

         - Pra que você quer sabê, meu fii? -

        Após passar mais uma vez a mão pelas costas e aproximar o dedo indicador ao nariz, o jovem, quase chorando, respondeu:

        - É que se fedê a bosta eu tou é baleado, pai.



Colaboração: Lázaro Pinho

(imagem Google)

4 comentários:

  1. Acrueldade vem de longe.
    Com certeza era meu primo...
    Boa Vista e Atoleiro era tudo uma família só.

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  2. MUITO BOA A CRIATIVIDADE DESSE JOVEM E A SUA IRREVERENCIA IMAGINE SO VOCE NUMA SITUAÇÃO DESSA. É CORRER CAGADO SEM OLHAR PRA TRAS.RSSSS

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  3. O cara estava mais do que certo. Pois é melhor escapar fedendo, de que morrer cheirando.

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