Na década de oitenta, na pacata Rua São Vicente, em Várzea Alegre, vivia um casal com claras diferenças e dificuldades no relacionamento. De um lado o boêmio marido, viciado em bebidas, tocador de violão, que todas as noites saía sozinho para os bares da cidade. De outro, a recatada e caseira esposa, ocupada com as inúmeras atribuições do lar e cuidadosa com os filhos pequenos.
Nada impedia a saída noturna do egoísta e insensível marido. Nem mesmo com os filhos doentes ele permanecia em casa para dividir as tarefas com a mulher.
Certa noite, o marido se arrumava para sua farra rotineira quando a esposa, da cozinha, fervendo o leite no velho fogão, rogou:
- Zé, num vá pra rua hoje não. Os minino tão com essa tosse de cachorro. E eu também tou cum difruço* danado...
Mesmo assim o esposo não se sensibilizou, vestiu a roupa e saiu. Quando o boêmio já passava em frente à capela da tradicional Rua São Vicente, a mulher, da porta da modesta casa, apelou:
- Hômi, volta que o leite cortou**...
O farrista marido, antes de prosseguir na sua habitual caminhada em direção aos botecos da ponta da rua, virou-se e disse:
- Apois imendi.
Colaboração: Teresa Lisboa
* Difruço no vocabulário cearense significa resfriado
** Diz-se quando o leite azeda, estraga.
(imagem Google)
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