segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

548 - BUENOS AIRES DO SERTÃO




Em Várzea Alegre, sertão cearense, algumas localidades receberam  nomes de cidades argentinas, como Rosário e Buenos Aires. Mas, com o desgaste do tempo, a homenagem da famosa e importante capital sul-americana passou pelo fenômeno linguístico da corruptela, transformando-se simplesmente em  “Bonizário”.

Se a capital argentina sempre encantou pela sua rica e diversificada cultura, o Bonizário varzealegrense marcou pelas histórias de um personagem simples, esperto e irreverente, o trabalhador rural José de Souza Lima, de apelido Pé Veí. Nos finais da tarde, no aparazível sítio de Francisco Fiúza de Lima (Fatico) e de sua esposa Francisca Gonçalves Fiúza (Risalva), na sombreada calçada alta da casa grande, várias pessoas se reuniam, entre as quais o folclórico empregado.

Em um dia do final do século passado,  já no começo da noite, várias pessoas contavam e ouviam histórias na concorrido oitão* da casa de seu Fatico, quando dois viajantes, à cavalo,  se aproximaram e pediram água. Saciada a sede, os homens já montavam no cavalo quando Pé Véi, sem se levantar do banco de madeira,  perguntou:

- Vocês já jantaram?

- Inda não – responderam, os animados viajantes.

Pé Véi, com sua marcante indolência, virou-se para o patrão e disse:

- É uma pena, seu Fatico? Todo mundo comeu e num sobrou nadia...

Conformados, os forasteiros pisavam no estribo para subir na montaria, quando mais uma vez foram interrompidos por Pé Véi:

­- Mas vocês gosta de quaiada?

- Gostamo sim – respondeu, imediatamente, um dos viajantes.

O irreverente Pé Véi, dessa vez se dirigindo à querida patroa, completou:

- Mas espia, dona Risalva, eles num tão cum sorte hoje. Se tivesse pelo meno uma quaiadia...


* Oitão é o lado da casa virado para o nascente, que dá sombra à tarde.
Colaboração: Ropson Frutuoso Bezerra
(imagem Google)

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