Em Várzea Alegre,
sertão cearense, algumas localidades receberam nomes de cidades argentinas, como Rosário e
Buenos Aires. Mas, com o desgaste do tempo, a homenagem da famosa e importante capital
sul-americana passou pelo fenômeno linguístico da corruptela, transformando-se simplesmente em “Bonizário”.
Se a capital
argentina sempre encantou pela sua rica e diversificada cultura, o Bonizário varzealegrense marcou pelas
histórias de um personagem simples, esperto e irreverente, o trabalhador rural José
de Souza Lima, de apelido Pé Veí. Nos finais da tarde, no aparazível sítio de Francisco Fiúza de Lima (Fatico) e de
sua esposa Francisca Gonçalves Fiúza (Risalva), na sombreada calçada alta da
casa grande, várias pessoas se reuniam, entre as quais o folclórico empregado.
Em um dia do final
do século passado, já no começo da
noite, várias pessoas contavam e ouviam histórias na concorrido oitão* da casa de seu Fatico, quando dois viajantes, à cavalo,
se aproximaram e pediram água. Saciada a
sede, os homens já montavam no cavalo quando Pé Véi, sem se levantar do banco de madeira, perguntou:
- Vocês já jantaram?
- Inda não – responderam, os animados
viajantes.
Pé Véi, com sua marcante indolência, virou-se para o patrão e disse:
- É uma pena, né seu Fatico? Todo mundo comeu e num sobrou nadia...
Conformados, os
forasteiros pisavam no estribo para subir na montaria, quando mais uma vez foram interrompidos por Pé Véi:
- Mas vocês gosta de quaiada?
- Gostamo sim – respondeu, imediatamente, um
dos viajantes.
O irreverente Pé Véi, dessa vez se dirigindo à querida
patroa, completou:
- Mas espia, dona
Risalva, eles num tão cum sorte hoje. Se tivesse pelo meno uma quaiadia...
* Oitão é o lado da casa virado para
o nascente, que dá sombra à tarde.
Colaboração: Ropson Frutuoso Bezerra
(imagem Google)
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