Era 1953 e Terezinha contava apenas com dez anos de idade. Uma das filhas da numerosa prole do casal Antônio Costa e Maria Amélia, a garota nunca havia deixado as terras da pequena e isolada Várzea Alegre. Até que um dia recebeu o convite de seu avô materno, o industrial Dirceu de Carvalho Pimpim:
- Terezinha, diga a sua mãe que você vai comigo e Dosa para a festa do centenário do Crato.
O mês que faltava para a viagem inundou a imaginação da garota. Sem muitas referências, pensou inicialmente que Crato era apenas um sítio ou talvez uma outra pequena localidade com as mesmas limitações de sua humilde terra natal. Mas a intuição dizia que aquele passeio marcaria sua memória para sempre.
Calçando alpercatas novas compradas por seu avô e trajando vestido especialmente feito por sua avó Madrinha Dosa, Terezinha finalmente seguiu para o Crato na boléia do caminhão misto de Toin Diniz. A menina não precisava falar. Seu silencioso e tímido rosto traduzia a enorme felicidade sentida naquele momento.
Depois de cerca de quinze léguas de estrada sinuosa, o velho caminhão chegou ao Crato. A curta caminhada da parada da Rua Monsenhor Esmeraldo até à Senador Pompeu, no oitão da Igreja São Vicente, onde iriam se hospedar, já foi suficiente para impressionar a garota. Viu muito mais carros nas vias do que os únicos três que pouco circulavam por Várzea Alegre. A “Princesa do Cariri” estava em festa, pois além dos cem anos de emancipação, também seria retomada a exposição agropecuária após período de interrupção.
Naquele proveitoso passeio, interessantes novidades surpreenderam os aguçados sentidos da pequena varzealegrense. Além de conhecer o trem, a menina ouviu o barulho do vôo rasante do avião que trazia para as festividades o vice-presidente Café Filho. Na elegante comitiva oficial, recebida pelo prefeito Doutor Teles Cartaxo e pelo governador Raul Barbosa, também vieram outros futuros presidentes, como o comandante da 10ª Região Militar General Castelo Branco e o Ministro do Trabalho João Goulart. Essas e várias outras graduadas autoridades passaram em revista pela rua enfeitada e miraram nos olhos admirados da menina.
Ao voltar do sonho e desembarcar de volta à sua querida cidade, a menina, orgulhosa, cheia de novidades, ostentando um dourado relógio ganhado do avô, foi logo dizendo para as inúmeras crianças que a aguardavam:
- Sabe quem eu vi no Crato bem de pertin? O presidente Café filho.
Colaboração: Terezinha Costa Cavalcante
(imagem Google)
Uma garota mais velha que ouvia a conversa, em flagrante despeito, resmungou:
- Oxe, besteira. Se danar daqui pro Crato só pra ver isso. Carecia não. Era só comprar uma quarta de café na bodega de seu Zé Augusto.
Colaboração: Terezinha Costa Cavalcante
(imagem Google)
É por isso que inveja mata!
ResponderExcluirAinda bem que mata a outra pessoa, Terezinha
está aí firme e forte para recontar essas estórias.
Como era distante o Crato!Com era novo tudo o que tinha lá! Nem vou muito longe... A minha viagem de férias mais longe era prá Orós. Mas qualquer coisa de diferente que se comentasse era sempre motivo de piada.
ResponderExcluiré esse final foi dez
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