quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

701 - SOCORRO DIA




Socorro Dia foi uma marcante vizinha em Várzea Alegre. Por várias décadas, com esposo e filhos, morou bem próximo a casa onde nasci. De origem modesta, aquela negra mulher esbanjava felicidade e simpatia. Sua alegria de viver superava qualquer dificuldade ou limitação material. Era comum vê-la passar cantando pelas calçadas das estreitas ruas da pequena cidade cearense.

No início da década de 1990, Ana Lúcia, filha caçula de Socorro, viajou para São Paulo, em busca de novas oportunidades de trabalho. Após cerca de um ano sem receber notícias da filha, finalmente chegou a ansiada carta vinda do sudeste brasileiro. Socorro chamou os vizinhos à sua casa e pediu para uma amiga ler a carta de Ana. A missiva começava e terminava contando os dramas da filha:

“Mãe, tou sofreno muito aqui no São Paulo. E tenho uma notícia tão ruim pra dar pra senhora. Fiquei buxuda dum hômi que arrumei por aqui. Engravidei sem casar, mãe. Minha preocupação é dar essa notícia pra mãe. Mãe, me perdoe. Mãe a senhora é tão religiosa...”

Na carta Ana lamentou a sua inesperada gravidez e contou outras dificuldades vividas por uma pobre migrante na Selva de Pedra. Socorro ouviu atentamente a história da filha. Após um longo minuto de silêncio, a conformada mãe comentou:

- Vaila, as coisa de Ana mia fia. Terminou a carta e num falou se recebeu o quejo qu’eu mandei pra ela...


Colaboração: Terezinha Costa Cavalcante
(imagem Google)

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