Socorro
Dia foi uma marcante vizinha em Várzea Alegre. Por
várias décadas, com esposo e filhos, morou bem próximo a casa onde nasci. De origem modesta, aquela negra mulher esbanjava felicidade e simpatia. Sua alegria de
viver superava qualquer dificuldade ou limitação material. Era comum vê-la
passar cantando pelas calçadas das estreitas ruas da pequena cidade cearense.
No
início da década de 1990, Ana Lúcia, filha caçula de Socorro, viajou para São
Paulo, em busca de novas oportunidades de trabalho. Após cerca de um ano sem
receber notícias da filha, finalmente chegou a ansiada carta vinda do sudeste
brasileiro. Socorro chamou os vizinhos à sua casa e pediu para uma amiga ler a
carta de Ana. A missiva começava e terminava contando os dramas da filha:
“Mãe,
tou sofreno muito aqui no São Paulo. E tenho uma notícia tão ruim pra
dar pra senhora. Fiquei buxuda dum hômi que arrumei por aqui. Engravidei sem casar, mãe. Minha
preocupação é dar essa notícia pra mãe. Mãe, me perdoe. Mãe a senhora é tão religiosa...”
Na
carta Ana lamentou a sua inesperada gravidez e contou outras dificuldades
vividas por uma pobre migrante na Selva
de Pedra. Socorro ouviu atentamente a história da filha. Após um longo minuto
de silêncio, a conformada mãe comentou:
- Vaila, as coisa de Ana mia fia. Terminou a carta e num falou se recebeu o quejo qu’eu mandei pra ela...
Colaboração: Terezinha Costa
Cavalcante
(imagem Google)
Coração de mãe é abundante em compreensão e perdão.. :)
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