segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

703 - SAMARICA PARTEIRA




Após alguns dias matando a saudade da querida terra onde nasci, cruzei novamente o sertão nordestino em viagem de volta para casa. Sofrendo em decorrência da longa seca, com o tom cinzento da vegetação monopolizando a paisagem, o povo cearense mostra sua originalidade e seu instinto de sobrevivência. Pelas estradas do sertão central encontrei algumas motopipas, pequenos veículos de duas rodas carregando vários recipientes com água, uma versão moderna dos antigos jumentos e suas ancoretas.

Contemplei esse bucólico cenário ouvindo a potente voz e a ritmada sanfona do grande Luiz Gonzaga. Ninguém descreveu melhor e com mais precisão a vida e o espírito sertanejo. Com bom humor, o pernambucano de Exu revelou passagens do cotidiano do povo simples da região. 

No meio do percurso, adorei escutar mais uma vez a divertida história de Samarica Parteira, escrita por Zé Dantas e gravada por Gonzagão em 1974.  A interpretação maravilhosa  descreve a ida do peão, muntado em uma bestinha melada,  para buscar a parteira pois a esposa do Capitao Barbino sofria com "dô de minino".

Gonzaga ajuda na sonoplastia, imita sons como o forte ranger das cancelas e o barulho dos sapos na lagoa. Na saudação inicial, o velho sanfoneiro já apresenta o divertido tom da prosa, tratando da valentia e da sofrida beleza do sertanejo:

"- Oi sertão!
- Sertão d’Capitão Barbino! Sertão dos caba valente...
- E dos caba frouxo também...
- sertão das muié bonita...
- e dos caba fei também..."


(imagem Google)

Nenhum comentário:

Postar um comentário