sábado, 5 de junho de 2010

182 - A FORÇA DA VERDADE



          Há um provérbio francês que diz: apenas a verdade ofende. Outro, iugoslavo, vai mais adiante e aconselha: diga a verdade e saia correndo. Pelas sentenças populares fica claro que o que não somos pouco nos incomoda.

          Meu primo José Costa Neto sofria de um grave problema na visão. Seus óculos eram do tipo “fundo de garrafa”, com mais de dez graus de correção em cada lente. Antes de dormir colocava os óculos embaixo da sua “cama de campanha”. Ao acordar, buscava o pince-nez* tateando o chão.

          Costa, como conhecido, por muitos anos morou em Fortaleza com minha avó Maria Amélia. Certa noite, na década de setenta, voltava à pé de uma animada tertúlia quando um bêbado lhe abordou pedindo dinheiro. Como não foi atendido, o inconveniente pedinte vociferou:

         - Você é um baitola, ladrão, corno, marginal...

         Costa, impassível, ouvia tranquilo as agressões verbais. Até que o pedinte disse:

         - E também é um cego sem vergonha.

        Nesse momento Costa perdeu a compostura, arregaçou as mangas da camisa e partiu para cima do bêbado, gritando:

         - Cego não. Agora você me ofendeu.


* palavra francesa que originalmente significa óculos sem haste em que uma mola prende ao nariz mas usada no Ceará como sinônimo para todos os tipos óculos.

(imagem Google)

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